António Teixeira Lopes (1866-1942) foi um escultor gaiense que deixou o seu legado, na forma da sua casa-atelier e do que esta continha, à Câmara Municipal da Vila Nova de Gaia. É a partir desta doação, finalizada em Março de 1933, que nasce a que agora é conhecida como Casa-Museu Teixeira Lopes.

José Veloso Salgado, Retrato do Mestre António Teixeira Lopes, 1889, óleo sobre tela.
A construção deste espaço, projecto de José Teixeira Lopes, arquitecto e irmão do escultor, tem início em 1894. O edifício, erguido na então Rua Sá da Bandeira, actual Rua Teixeira Lopes, começou por albergar apenas o atelier central, sendo aumentado ao longo dos anos até por volta de 1906, dividindo-se entre divisões privadas e de trabalho.


Crê-se que Teixeira Lopes tinha, desde muito cedo, a intenção de tornar esta casa-atelier num espaço de reunião e comunhão de pessoas, bem como de visualização e admiração das suas obras. O artista recebia amigos, colegas e familiares a quem mostrava as suas obras quase em modo de visita guiada.
Foi também um local pelo qual passaram as personalidades mais distintas da época, seja a nível das artes plásticas, do teatro, da literatura, da música e até mesmo da política. Destacam-se nomes como os do actor Augusto Rosa, da violoncelista Guilhermina Suggia, do pintor António Carneiro, da Rainha D. Amélia, do Rei D. Manuel II, do escritor Ramalho Ortigão, do poeta e político Teófilo Braga, para nomear alguns.
Numa visita à Casa-Museu Teixeira Lopes podem percorrer os ateliers do escultor onde se encontram estudos (em gesso, bronze, mármore, bem como alguns desenhos) de muitas das suas obras, incluindo A Viúva, Caim, Caridade, Rainha Santa Isabel, Nossa Senhora de Fátima, Verdade – Monumento a Eça de Queiroz, A Dor, entre outras.




António Teixeira Lopes, A Verdade, gesso, 1903.
Já nas divisões privadas estão expostas, entre muitos outros elementos, peças de mobiliário de estilos e épocas diferentes, uma colecção de leques, uma vasta mostra de cerâmica (algo não surpreendente, tendo em conta que José Joaquim Teixeira Lopes, pai do escultor, foi um dos sócio-fundadores da Fábrica das Devezas) e algumas peças em talha.
Para além disso, é possível descobrir os artistas que fazem parte da colecção privada do Mestre, como são exemplo António José da Costa, Gustave Doré, João Glama Ströberle, José Malhoa, Marques de Oliveira, Oliveira Ferreira, Raphael Bordallo Pinheiro, Rei D. Carlos, Soares dos Reis, Veloso Salgado (com uma presença bastante significativa na Casa-Museu), Vieira Lusitano, Vieira Portuense.




Há igualmente possibilidade de descobrir o jardim, também ele povoado de estátuas, que, em tempos, teve uma vista privilegiada para o Porto. Já quase chegado ao seu fim, podemos ver o túmulo que se destinava a Almeida Garrett, uma obra que António Teixeira Lopes desenvolveu em conjunto com o seu irmão (como acontecia várias vezes), mas que, devido a algumas divergências, acabou por não ter o seu destino final, fazendo por isso parte do espólio da Casa-Museu.
Enquanto se percorre o espaço exterior é preciso atenção para os detalhes que compõem a arquitectura do edifício, tal como as arcadas em tijolo das janelas, as telhas cerâmicas pintadas ou umas escadas que, no tempo do escultor, levavam ao que seria o seu pombal.

António Teixeira Lopes e José Teixeira Lopes, Túmulo de Almeida Garrett, mármore, s/d.



Seja no exterior ou no interior, nas áreas de trabalho ou nas áreas privadas, toda a envolvência da Casa-Museu Teixeira Lopes transporta-nos para a época em que o Mestre ali viveu e trabalhou. Conseguimos perceber o amor que tinha por aquilo que produzia, o orgulho que tinha em coleccionar e mostrar as obras de colegas e amigos, sendo possível perceber a sua sensibilidade e gostos a partir dos vários itens expostos no espaço. Uma viagem à primeira metade do século XX que nos mostra a importância da família, da amizade e ligações que se vão criando ao longo do tempo, do trabalho e do esforço. No entanto, o mais visível em todos os aspectos da Casa-Museu é o amor que Teixeira Lopes tinha pela Arte.
Integradas neste espaço existem as Galerias Diogo de Macedo, local que, de momento, se encontra encerrado para obras, mas sobre o qual falarei brevemente.
A Casa-Museu Teixeira Lopes merece a vossa visita e, quando os museus reabrirem, espera-vos de terça a sábado das 09:00 às 12:30 e das 14:00 às 17:30, com entrada gratuita e visita guiada incluída.
Para mais informações: https://www.cm-gaia.pt/pt/cidade/cultura/equipamentos-municipais/casa-museu-teixeira-lopes-galerias-diogo-de-macedo/.
Artigo muito interessante, de um museu que não me é totalmente desconhecido mas que neste momento não nos é possível visitar.
Este artigo foi como “visita-lo” sem sair de casa.
Esperamos os próximos artigos 😀
GostarLiked by 1 person
Era essa a intenção.
Obrigada. 🙂
GostarGostar
quero muito conhecer esta Casa e que sejas tu a mostrar os cantinhos todos, mas este artigo ajuda a colmatar até isso acontecer !🥰
GostarLiked by 1 person
Ainda bem. 🙂
GostarGostar