Sarah Affonso | Vida

O papel de Sarah Affonso na História da Arte Portuguesa tem vindo a ser reafirmado aos poucos, sendo que em 2019 e 2020 foram duas as exposições a ela dedicadas. A Fundação Calouste Gulbenkian e o Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado uniram-se para mostrar as raízes, as influências e todos os campos de criação que marcaram a vida desta que foi uma artista que fugiu às correntes da sua época e que foi um pouco mais além do que se fazia em Portugal. Lentamente, deixa para trás o ser conhecida como “a mulher de Almada Negreiros”, para ser ela mesma, Sarah Affonso.
Neste artigo está em foco a vida e as conquistas da artista, deixando a análise à sua obra para o próximo.

Sarah Affonso. Fonte: https://www.facebook.com/fundacaocaloustegulbenkian

Sarah Sancha Affonso nasce a 13 de Maio de 1899, em Lisboa, sendo a filha mais velha de 6 irmãos. Entre 1903 e 1914, mora em Viana do Castelo com a família, pois o seu pai, oficial do exército, foi aí colocado. Esta vivência vai ser muito importante na sua obra.

Inicia o curso de Pintura na Escola de Belas Artes de Lisboa em 1915, terminando em 1922, numa altura em que não era habitual as mulheres frequentarem os cursos de Belas Artes, muito pela preocupação que os pais tinham por elas terem que desenhar homens nus.
Foi a última aluna de Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929).

Sarah Affonso (em primeiro plano) nas Belas Artes. Fonte: https://amusearte.hypotheses.org/

Em 1924, parte sozinha para Paris (na altura, a cidade de Picasso), onde mergulha profundamente numa cultura artística ignorada em Portugal. Convive com Diogo de Macedo, Francisco Franco, Dordio Gomes e Abel Manta. Toma o Louvre como um dos seus pontos constantes de passeio, apesar de não ter gostado particularmente da sua primeira ida ao famoso museu, por não se relacionar de todo com as obras expostas – tudo muito grande, tudo muito igual. Estuda na Académie de la Grande Chaumière, onde tem aulas livres com modelos.

Apesar de aluna de Columbano Bordalo Pinheiro, esta viagem a Paris vai ser muito importante no seu percurso enquanto artista, sendo que deixa o Naturalismo completamente de lado e se foca em tudo o que absorve na capital francesa.

Em 1925 e 1926, expõe respectivamente no I e II Salão de Outono da Sociedade Nacional de Belas Artes, o primeiro organizado por Eduardo Viana e o segundo por José Pacheko.
Em 1928, inaugura a sua primeira exposição individual no Salon Bobone, em Lisboa.

É também neste ano que decide regressar a Paris, trabalhando num atelier de costura como forma de sustento. Tem como companhia habitual Lúcia Pecetto Souza-Cardozo (viúva do pintor), Eduardo Viana, Milly Possoz, Robert e Sonia Delaunay.
Infelizmente, vê-se obrigada a voltar definitivamente a Lisboa em 1929, devido aos problemas de saúde e consequente morte da sua mãe.

Sarah Affonso com cerca de 19 anos. Fonte. https://www.facebook.com/fundacaocaloustegulbenkian/

Sarah Affonso, O Meu Retrato, 1927, coleccionador privado. Fonte: https://ilustracaoportugueza.wordpress.com/

Após regressar desta segunda estadia em Paris, começa a frequentar A Brasileira, no Chiado, algo inédito para uma mulher na altura. Estas idas ao emblemático café serviram como forma de se afirmar e compensar a perda de liberdade que teve ao voltar de Paris, pois Portugal era ainda muito atrasado em relação a esses aspectos, principalmente no que toca às liberdades das mulheres. Começou por haver quem se risse da sua presença, mas cedo estabeleceu um grupo de companheiros, no qual se inseria Almada Negreiros, tendo inclusive uma hora específica para aparecer e passar tempo com eles.
Desta forma, começou a fazer parte da vida social e artística de Lisboa, sendo que alguns dos seus colegas artistas lhe solicitavam trabalhos.

Apesar da segunda metade do século XX representar uma expansão das mulheres no mundo da Arte, acompanhando o movimento da inserção das mulheres no mundo do trabalho, criando uma ruptura com a ideia existente de que a mulher é só mãe de família e dona de casa, isto acaba por ser algo não tão notório em Portugal, principalmente com a mudança de regime.
Sarah não representa esta alteração nas suas obras, mas sabemos que esta alteração afectou a liberdade e os direitos da mulher portuguesa que passaram a representar um nível de restrições a que a artista não estava habituada, principalmente tendo em conta os anos em que viveu em Paris.

Em 1934, com 35 anos, casa com José de Almada Negreiros, com quem tem 2 filhos: José Afonso (que nasce no mesmo ano) e Ana Paula (nasce em 1942). Após a sua união com o também pintor, o tema da família passa a estar presente e a ser bastante recorrente na sua obra.

Em 1938, o casal adquire a Quinta da Lameirinha, em Bicesse (Alcabideche), que mais tarde irá ser um ponto de refúgio para Sarah e onde empenhará muita da sua criatividade artística.

Sarah Affonso e Almada Negreiros.
Fonte: https://www.pontedelimacultural.pt/

Sarah Affonso e Almada Negreiros com os filhos, anos 40. Fonte: https://gazetadabeira.pt/

Apesar dos primeiros anos do casamento serem bastante fortes a nível da sua produção artística, o seu papel como esposa e como mãe é um dos motivos que mais tarde, em 1939, a fará abandonar a Pintura. Continuará, porém, a expandir a sua criação pela já referida Quinta da Lameirinha, principalmente no que toca a elementos decorativos, e a auxiliar o marido com as suas encomendas e obras de maior embargo.

Em 1944, é-lhe atribuído o Prémio Souza-Cardozo, pelo quadro Retrato do Filho.
Em 1953, obras suas integram a 2ª Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo.
Também neste ano, tem a sua primeira exposição retrospectiva na Galeria Março, em Lisboa. A segunda acontece na Galeria Dominguez Alvarez, no Porto.
Em 1982, é condecorada com a Ordem de Santiago de Espada, pelo Presidente da República General António Ramalho Eanes, nas celebrações do 10 de Junho.

Sarah Affonso, Retrato do Filho, 1936, coleccionador privado. Fonte: nadaemoda.pt

Sarah Affonso. Fonte: https://gulbenkian.pt/

Foi como que uma mulher dos sete ofícios, dedicando-se a várias áreas para além da pintura, como o bordado, a ilustração (incluindo ilustração de livros infantis), entre outros.
Sarah Affonso morre a 14 de Dezembro de 1983, em Lisboa.

Não percam o próximo artigo no qual as obras da artista terão o foco principal.

Imagem de topo do artigo: montagem de fotografias de Sarah Affonso. Fonte: https://www.avidaportuguesa.com/pt.

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