A segunda fase do desconfinamento trouxe a reabertura dos Museus e Monumentos e, com isso, a tão esperada inauguração do Museu do Holocausto, no Porto. Esta deveria ter acontecido no dia 27 de Janeiro, para simbolizar o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, mas, com o encerrar da Cultura, viu-se adiada para o dia 5 de Abril.

Fonte: Time Out.
O Museu do Holocausto é tutelado por membros da Comunidade Judaica do Porto, cujos pais, avós e outros familiares foram vítimas dos nazis durante a Segunda Guerra Mundial, e insere-se um projecto cultural que tem vindo a ser construído também com a Sinagoga e o Museu Judaico. Aqui temos já uma pista para um dos elementos chave que encontrámos em exposição: cerca de 400 fichas individuais de judeus que se refugiaram em Portugal, documentos esses que fazem parte do arquivo da Sinagoga. E esse é um dos aspectos mais marcantes, pois dá-nos uma noção da quantidade de pessoas que se deslocaram para o Porto para pedir abrigo ou usar o país como ponto de partida para fugir da Europa.
Essas vitrinas de documentação acompanham a parte mais significativa do Museu, composta por placares que nos contam o que foi o Holocausto, como começou e porquê e como terminou. Estes textos são ilustrados por fotografias da época, muitas das quais são já bem conhecidas, principalmente as relativas aos campos de concentração. Há também alguns televisores que mostram vídeos da época.

Fonte: JPN.
Mas as partes mais impactantes do Museu do Holocausto são as que estão logo ao início.
Depois de uma zona de folhagem artificial que nos transporta do nosso mundo para um outro assim não tão longínquo, somos recebidos por uma sala que à esquerda nos mostra um excerto do filme A Luz de Judá, que conta um pouco da história dos refugiados no Porto, e que à direita nos recebe com os portões do campo de Auschwitz numa imagem cheia de luz e que ocupa a totalidade de uma parede.
Seguindo a via da esquerda, entrámos numa reconstituição do que eram as camaratas no campo de Birkenau. Se pelas fotografias que já conhecemos percebíamos que as condições eram inexistentes, agora ainda mais. Entre os sacos de serapilheira que servem de colchão e a pouca altura das camas, há uma certa noção de desconforto que chega quase a um sufoco, principalmente se pensarmos no número de pessoas que ocupavam estes espaços. Esta parte é acompanhada por textos e imagens que nos contam a vivência nos campos de concentração e que também exploram o tema do extermínio.

Fonte: Time Out.

Fonte: Time Out.
Após esta zona das camaratas, percorremos um corredor que nos leva à que é, provavelmente, a sala com mais impacto deste Museu. No centro tem uma pedra com a inscrição “Remember” e a toda a volta, nas paredes, vemos os nomes de cerca de 30 mil vítimas do Holocausto, apenas uma percentagem de um total de 6 milhões de judeus que perderam a vida. Nomes estes a partir dos quais se cria a iluminação desta sala. Somos invadidos por uma sensação quase palpável do número de pessoas que faleceu nos campos ou a caminho deles.
É depois de termos esta noção mais visível das mortes que vamos para os corredores de informação acompanhados pelos tais documentos deixados na Sinagoga do Porto, que já referi no início.

Fonte: JPN.
Mais do que ser um espaço para nos dar algo novo, o Museu do Holocausto traz-nos a necessidade de não nos esquecermos do que está para trás. Mostra-nos como é importante aprender com a História e como esta, infelizmente, se repete (algo mencionado no fim da exposição). É importante que se mantenha esta memória viva, o que levou o Museu a seguir o repto do Projecto Nunca Esquecer, inserido no programa governamental de memória do Holocausto.
Este é um espaço único e inovador na Península Ibérica e que dá uma luz nova sobre a relação da cidade do Porto com o Holocausto, ligação essa ainda desconhecida de muitos.
O Museu do Holocausto pode, para já, ser visitado de Segunda a Sexta-feira, das 14h30 às 17h30. A entrada será gratuita até Junho e por isso deixo o conselho de esperarem um pouco para o visitar, pois as filas de espera ainda são longas.
Deixo ainda a nota de que este é um espaço sagrado e por isso há normas a cumprir: os telemóveis, carteiras e casacos ficam em cacifos à entrada e há também que ter em atenção o vestuário.