Depois de cerca de um ano de portas fechadas, primeiro devido à pandemia e depois devido às obras de requalificação do espaço, o Museu Nacional de Soares dos Reis reabriu ao público no passado dia 15 de Maio, para celebrar a Noite Europeia dos Museus.
Embora ainda não seja possível andar pelos espaços de exposição permanente, sendo que as obras ainda continuam, há, no entanto, três exposições temporárias que podem visitar. Neste artigo, poderão encontrar alguma informações sobre elas e perceber como as três têm uma base bastante diferente entre si.
1. A Índia em Portugal – Um Tempo de Confluências Artísticas
Esquerda: Cruz relicário de altar e galhetas, Norte da Índia, c. 1580-1630.
Direita: Menino Jesus Bom Pastor, Índia, Goa, c. 1630-1700.

Vários objectos de uso doméstico em madrepérola, prata, tartaruga, marfim, pedra de Goa, etc.
Esta exposição, pensada no âmbito da presidência portuguesa da União Europeia, leva-nos numa viagem entre os finais do século XV e o século XVII, mostrando-nos a ligação que houve entre Portugal e a Índia nessa época dos Descobrimentos. Os objectos expostos remontam, então, até esse século de troca de influências artísticas e encomendas, indo sobretudo desde o Norte até ao Sul da costa ocidental do país asiático.
Os cerca de 70 objectos que poderão ver, mostram a riqueza desse encontro cultural e comercial entre os dois países, num conjunto que se baseia sobretudo na tipologia decorativa, mas cujos materiais diferem entre as várias peças: madrepérola, marfim, tartaruga, prata, entre outros.
Entre baús e arcas, contadores, utensílios de mesa, objectos religiosos, estão peças relevantes a nível histórico, sendo que algumas delas nunca tinham sido levadas ao olhar público. A riqueza destes objectos era algo até então nunca visto no continente europeu e cujo comércio foi facilitado pela ligação que se criou entre a Índia e Portugal, sendo este um intermediário comercial, devido à criação de novas rotas transoceânicas.
A exposição pode ser visitada até ao dia 30 de Junho.
2. José Régio – [Re]visitações à Torre de Marfim, Exposição de Poesia e Desenho
Esquerda: José Régio, Sem Título, lápis de cor sobre papel, 1968. Colecção de Isabel Pereira.
Direita: José Régio, Pierrot está Apaixonado, Tinta-da-China sobre papel, sem data. Colecção de Isabel Pereira.

Livros de autoria de José Régio, pertencentes à colecção da Câmara Municipal de Vila do Conde.
Esquerda: Júlio Régio, Sem título, Tinta-da-China sobre papel, 1941. Colecção da Câmara Municipal de Vila do Conde.
Direita: Júlio Régio, Menina, óleo sobre cartão, 1933. Colecção da Câmara Municipal de Portalegre.
Representativa de uma iniciativa das Câmaras Municipais de Vila do Conde e de Portalegre, esta exposição que, em 2019, assinalou os 50 anos da morte de José Régio (1901-1969), leva-nos, tal como diz o curador Rui Maia, pelos desenhos de cariz intimista, referências do imaginário do poeta, fixados a tinta-da-china, aguada, lápis de cor e cera pigmentada, consolidando o risco prévio a grafite, marcam o manuscrito do autor, ora incluídos na tessitura do poema, ora antecipando-o ou sucedendo-o, materializando a impressão fugaz que lhe parecia escapar.
Torre de Marfim remete para o local no qual José Régio esteve em reclusão e onde conseguiu fixar as impressões iniciais para a sua arte, tornando-se o símbolo deste laboratório de criação regiano. A sua produção plástica contamina a literária, atirando-se por várias soluções e sem nunca procurar atingir a perfeição artística, tornando-se ela própria um sistema poético em experimentação.
Ao visitar a exposição, é possível ver mais de uma centena de peças reunidas, entre desenhos intimistas, três cadernos manuscritos pelo poeta e ainda algumas obras de autoria do irmão e pintor conhecido pelo público como Júlio (1902-1983), acompanhadas pelo documentário As Pinturas do Meu Irmão Júlio, realizado, tal como o título indica, por José Régio.
José Régio – [Re]visitações à Torre de Marfim, Exposição de Poesia e Desenho é visitável até ao dia 1 de Agosto.
Há ainda a oportunidade de assistirem a três conversas de temas distintos sobre José Régio, a sua obra e a ligação com o seu irmão. Para mais informações, basta consultarem o evento na página de Facebook do Museu Nacional de Soares dos Reis.
3. Depositorium… 1
Esquerda: Eugénio Moreira, Autorretrato, óleo sobre tela, 1890-1913.
Direita: Faqueiro com Estojo (detalhes), Porto, prata, madeira e veludo, 1836-1843.
Esquerda: Caneca, Europa Central, vidro gravado a ponta de diamante, século XVIII.
Direita: Grupo Escultórico, Sul da China, grés vidrado, finais do século XIX.
Por muito mais que os museus exponham nas suas salas de exposição permanente, há sempre uma parte significativa da colecção que fica nas reservas, raramente exposta aos olhares de quem visita estes espaços. Depositorium… 1 foca-se exactamente nessas peças que nos estão escondidas a maior parte do tempo.
Tal como o título nos indica, estamos perante um ciclo de exposições que visa, com curadorias diversas, mostrar-nos as histórias que se encontram nas reservas do Museu Nacional de Soares dos Reis. Uma forma de reafirmar o valor que o Museu tem para a cidade do Porto e para o país, com uma colecção que se move entre as mais diversas tipologias, como a Pintura, a Escultura, o Mobiliário, os utensílios de uso comum, objectos religiosos, Cerâmica, Joalharia, Ourivesaria, entre outros. As proveniências e épocas de produção dos elementos expostos são também muito abrangentes.
Este primeiro conjunto de objectos reflecte uma escolha feita por toda a equipa do Museu, culminando numa mostra de 16 peças. Cada objecto é acompanhado da habitual legenda e ainda por um bloco informativo que nos diz um pouco mais sobre a peça que vemos e também o motivo pelo qual foi escolhida.
A primeira leva de peças da reserva do Museu pode ser visitada até ao dia 31 de Agosto. Sem dúvida que deixa um gosto no ar para saber o que trarão as próximas exposições deste ciclo.
Até a reabertura da exposição permanente, apontada para Novembro, estas são algumas das exposições com que poderão contar no Museu Nacional de Soares dos Reis.
O Museu dedica ainda, desde dia 2 de Junho, parte do seu jardim e galerias do segundo andar à exposição Autre-là inserida na programação da Bienal de Design do Porto, quem tem França como país convidado. Brevemente, será igualmente tema de um artigo aqui no proximArte.
Um pensamento sobre “Três Exposições para Ver no Museu Nacional de Soares dos Reis | Porto”