Seurat teve uma vida curta, mas isso não o impediu de dar um empurrão necessário ao desenvolvimento da Arte, que começava a pôr de lado a forma de ver dos mestres impressionistas. Com a sua vontade de explorar a luz através da cor e um modo distinto de fazer o público ver as obras, será o impulsionador de uma técnica que ficará conhecida como Pontilhismo.
Nas linhas que se seguem, terão acesso a dados mais biográficos e pessoais do pintor francês, como a sua caminhada pelo mundo escolar e expositivo no panorama artístico da época. Informação essa que será complementada por um próximo artigo de análise à sua obra e ao movimento que fundou e que trouxe um novo fôlego à criação pictórica dos finais do século XIX.

Fonte: Wikipédia.
Georges-Pierre Seurat nasceu a 2 de Dezembro de 1859, em Paris, em plena Revolução Industrial. Com base num círculo burguês, nunca passou por dificuldades económicas. O seu pai, Chrysostome-Antoine Seurat, era oficial de diligências em La Villette, a norte de Paris, o que lhe permitiu acumular uma fortuna considerável, dando ao filho uma vida de independência financeira. A sua mãe, Ernestine Faivre, provinha de uma família que contava já com uma grande linhagem de artistas, nomeadamente no meio escultórico. Foi o terceiro de quatro filhos.
Passou grande parte da sua juventude em Paris, tendo-se mudado temporariamente com a mãe e os irmãos para Fontainebleau, aquando a Comuna de Paris (os parisienses rebelaram-se contra o Estado Francês), em 1871.
Levou uma vida pacata que dedicou à Arte e às questões que esta trazia, principalmente a nível da cor, tendo um interesse incomum pelas bases intelectuais e científicas da área. Apesar de uma vida curta, a sua produção foi ainda algo considerável, nomeadamente a nível das influências que deixou.
A nível privado e familiar, foi um homem extremamente reservado, ao ponto de os seus amigos só saberem que tinha uma relação com Madeleine Knobloch, da qual resultou um filho, após a sua morte.

Ernest Laurent, Retrato de Seurat, desenho a carvão, 1883. Musée du Louvre. Fonte: Wikimedia.
Ao longo da sua vida e carreira vai demarcar-se dos seus colegas impressionistas, começando pela decisão de seguir a formação artística clássica. Assim sendo, aos 15 anos, frequentou um curso numa escola estatal de desenho, onde foi aluno do escultor Justin Lequien (1796-1881).
Em 1878, é admitido na École des Beaux-Arts, em Paris, tendo como professor Henri Lenham, conhecido discípulo de Jean-Auguste Dominique Ingres (1780-1867). As suas aulas eram sobretudo focadas no desenho e composição, algo a que o pintor aderiu numa primeira instância.
Fora as aulas, passava algum tempo na biblioteca, onde consultava livros que lhe fariam construir a sua base para o entendimento da cor, incluindo que pinceladas utilizar para vários efeitos, bem como as cores complementares que permitem a criação de contrastes. Este conhecimento levou a que o pintor analisasse algumas obras, principalmente de Eugène Delacroix (1798-1863), registando as partes mais importantes no seu diário. O seu grande manual de consulta foi Grammaire des Arts du Dessin, de Charles Blanc (1813-1882), publicação essa que lhe permitiu confirmar que os princípios da arte estão inseridos em leis objectivas.

Maximilien Luce, Seurat, desenho a carvão e aguarela, 1890. Colecção privada. Fonte: WahooArt.
Os horizontes de Georges Seurat alargam-se em Maio de 1879, quando visita a 4ª exposição dos Impressionistas. Aqui, vê obras que o libertam das regras e da Pintura tradicionais da Academia. Neste mesmo ano, abandona os estudos e, juntamente, com alguns colegas de curso, arrenda um atelier.
Entre Novembro de 1879 e o Outono de 1880, Seurat presta o seu serviço militar, em Brest. Aproveita estes tempos numa cidade litoral para pintar o mar, as praias e os barcos. Quando regressa a Paris, arrenda um alojamento com Édmond-François Aman-Jean (1858-1936). Juntos passam tardes no Musée du Louvre, onde Seurat admirava sobretudo as obras de Jean-François-Millet (1814-1875), que viria a tornar-se uma das primeiras referências nas obras de Seurat.
Neste estúdio, dedica dois anos a realizar desenhos com giz Conté e pequenos esboços a óleo. Com estes trabalhos, começa uma técnica que lhe permitia criar nuances e noções de profundidade, ao tracejar finos realces no papel. Consciente da sua capacidade enquanto desenhador, leva ao Salon de 1883 A Mãe de Seurat e Retrato de Aman-Jean, sendo este último aceite para exposição.
Esquerda: Georges Seurat, A Mãe de Seurat, giz Conté sobre papel, 1882-1883. The Metropolitam Museum of Art.
Fonte: WahooArt.
Direita: Georges Seurta, Retrato de Aman-Jean, giz Conté sobre papel, 1883. The Metropolitan Museum of Moder Art.
Fonte: METMuseum.
Durante esta década de 1880, conhece e estreita relações com o também pintor Paul Signac (1863-1935), que assume perante Seurat uma posição de seguidor. É ele que intitula o que ambos fazem como Neo-Impressionismo, tornando-se o porta-voz deste estilo, enquanto Seurat foi o seu teórico e líder.
A Paris destes anos já avançava num demarcar do Impressionismo e dos seus ideais de intuição e temperamento. Seurat, devido à sua perseverança, conseguiu tornar-se desde logo numa figura de referência da nova cena artística da cidade.
Ainda assim, foi só preciso avançar um ano após a sua estreia no Salon para ver uma das suas obras, Banhistas em Asnières, ser recusada no mesmo espaço, em 1884. Esta recusa leva Seurat a fundar a Sociedade dos Artistas Independentes, juntamente com Paul Signac, Odilon Redon (1840-1916), Maximilien Luce (1858-1941) e Henri-Edmond Cross (1856-1910). Deste modo, consegue expor a dita obra em Julho do mesmo ano. Em Dezembro, volta a expor a obra, criando aqui uma catapulta para o desenvolvimento da arte moderna.
Seurat vira, assim, as costas às exposições artísticas convencionais, juntando-se aos independentes que valorizavam as teorias de avanço relativamente à arte moderna, algo que lhe interessava acima de tudo.

Georges Seurat, Rapaz Sentado com Chapéu de Palha, giz Conté sobre papel, 1883-1884. Yale University Art Gallery.
Fonte: DelightfulPrints.

Georges Seurat, Estudo para Banhistas em Asnières, óleo sobre madeira, 1883-1884. The National Gallery.
Fonte: The National Gallery.
Conhece Camille Pissarro (1830-1903), co-fundador do Impressionismo, em 1885, convertendo-o temporariamente ao seu modo de pintar. Juntamente com Signac, estes foram os 2 artistas que partilharam com Seurat a preocupação pelos efeitos da luz na cor.
É em 1886 que apresenta Um Domingo à Tarde na Ilha da Grande Jatte, que se torna a obra impulsionadora do que conhecemos hoje em dia como Pontilhismo, mas que Seurat preferia denominar como Divisionismo. Este quadro, no qual o pintor já aplica todos os conhecimentos sobre cor, luz e óptica, caracteriza-se pela sua dimensão monumental e pelas pequenas pinceladas que dão a sensação de que a composição se faz de pequenos pontos. Esta técnica será abordada com mais pormenor no artigo dedicado à obra de Georges Seurat.

Georges Seurat, A Ilha de Grande Jatte, óleo sobre tela, 1884. Colecção particular. Fonte: WahooArt.

Georges Seurat, Visão Conjunta com as Personagens Reunidas, óleo sobre madeira, 1884. The Art Institute of Chicago.
Fonte: ARTIC.
O final da década de 1880 é marcado por alguns acontecimentos importantes para a sua carreira:
- 1887 é o ano em que começa a trabalhar na obra As Modelos, que viria a ser a sua última composição monumental, das sete que fez;
- em Fevereiro de 1888, leva sete telas para a exposição do grupo independente Twenty-XX, em Bruxelas. Viaja com Paul Signac;
- em 1889, volta a participar no Salão dos Independentes, expondo algumas paisagens.
Ultimamente, seria a organização dessa última exposição que o levaria à morte prematura, com apenas 31 anos. Ficou acamado em estado febril e terá desenvolvido uma angina infecciosa (difteria). O Circo foi a sua última obra e a que escolheu para esse Salão, mostrando-a ainda incompleta, sendo quase uma premonição de como ficaria a sua carreira.
Georges Seurat acaba por falecer no dia de Páscoa desse ano, 29 de Março, ainda antes do término da exposição. Foi enterrado na capela-jazigo da família, no cemitério Père Lachaise. O seu filho morre com a mesma condição a 13 de Abril do mesmo ano. Da mãe mais nada se soube.

Georges Seurat, O Circo, óleo sobre tela, 1890-1891. Musée d’Orsay. Fonte: Wikipedia.
Com uma vida tão curta e tão reservada, não é possível traçar mais acontecimentos biográficos a nível pessoal.
A Europa de Georges Seurat atravessava uma marcada mudança industrial e científica, algo que o pintor conseguiu reflectir através da sua arte, a qual, como já mencionado, será o tema do próximo artigo.
Pena a vida e carreira tão curtas num estilo tão diferente e tão fascinante!
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É verdade. Resta pensar nos caminhos que poderia ter seguido.
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GENIAL, A PRIMEIRA VEZ QUE VI A OBRA” ILHA DE GRANDE JATTE,” FOI CONTAMINADO PELO SEU ESTILO E ESTUDOS SOBRA E A MAGIA DO PONTILHISMOS. .
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