Chegados a 22 de Setembro de 2021 significa que, pelas 20h21, daremos as boas-vindas ao Outono. Por aqui, o chá e as mantas ficam um pouco de lado e dá-se lugar à representação desta estação no campo da Arte portuguesa, numa viagem desde o século II até ao século XX.
Outono, mosaico, segunda metade do século II d.C., Conímbriga.

Fonte: ArtsAndCulture.
A cidade romana de Conímbriga é composta por um grande número de mosaicos, muitos deles ainda em condições que nos permitem ver perfeitamente os seus padrões e desenhos. O esplendor mosaicista conimbrigense acontece entre os séculos XX e III d.C.
Este Outono pode ser encontrado na famosa “Casa dos Repuxos”, última paragem de uma visita ao local. A figura representada é Baco, Deus romano do vinho, da ebriedade, dos excessos e da natureza. Representado com uma coroa com uvas e folhas de videira, associa-se a esta estação por ser nela que se dá o amadurecimento das vinhas. Embora as cores utilizadas sejam muito normais da época de criação deste mosaico, são também apropriadas à paleta cromática outonal bem como aos elementos naturais que aqui vemos representados.
Artur Loureiro, Floresta de Brolles (Fontainebleau), óleo sobre tela, 1883, Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado.

A obra de Artur Loureiro (1853-1932) é largamente marcada pela influência da Escola de Barbizon com a qual tem contacto aquando a sua estadia em Paris como estudante. Aqui, dedica-se sobretudo à pintura ao ar livre, algo que será um dos elementos chave da sua carreira.
A tela aqui apresentada mostra isso mesmo, sendo que inclusive retrata Fontainebleau, um local muito querido aos participantes da escola acima referida. O Outono torna-se visível através da folhagem caída que se mostra em tons amarelados. Ao centro da composição podemos ver um cordeiro branco que se encontra com a cabeça voltada para o lado direito; é o elemento de destaque e mais luminoso. Loureiro utilizou aqui uma paleta cromática muito simples que se baseia em tons de verde, castanho e branco. A pincelada curta e expressiva das folhas e do pêlo do cordeiro contrasta com uma textura quase lisa dos troncos das árvores.
Columbano Bordalo Pinheiro, Frutos de Outono, óleo sobre tela, 1907, Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado.

Fonte: MatrizNet.
Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929) foi um pintor naturalista e realista, e apesar de ficar conhecido maioritariamente por alguns dos retratos que fez, são também várias as naturezas mortas presentes na sua obra.
Tal é exemplo Frutos de Outono que, na verdade, combina ambos os lados num jogo entre a luz e sombra, algo também muito comum nos quadros deste pintor português. Em primeiro plano ao centro são visíveis alguns frutos como pêssegos, uvas e um melão. Do lado direito da composição vemos a cara de uma mulher que, com a mão esquerda, segura um púcaro. Do lado esquerdo conseguimos ainda perceber uma broa e um garrafão de vinho, este já quase escondido pela penumbra de fundo. Todos os elementos se vêem envoltos numa escuridão, a qual é inundada por uma luz artificial que aparece do lado esquerdo da imagem e é essa luz que nos permite entender os elementos que compõem o quadro e que se mostram em pinceladas espessas.
José Malhoa, Outono, óleo sobre tela, 1918, Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado.

Sendo José Malhoa (1855-1933) um dos pioneiros no Naturalismo português e também um dos pintores nacionais que mais se aproximou do estilo Impressionista, não é de admirar que as estações do ano estejam presentes na sua obra e o Outono não poderia ser excepção.
Nesta pintura a óleo já vemos uma fase um pouco mais avançada do Outono, sendo que as árvores se encontram maioritariamente despidas, enquanto o chão parece agora feito de folhas. É exactamente com as folhas que Malhoa joga, construindo uma espécie de cortina com pequenas pinceladas que se prolongam até à representação do céu. Este trabalho, que faz uma alusão às características do Impressionismo, faz-se de sobreposições de vários elementos que constroem a composição, sobreposição essa que se enche com a luz que as tais pequenas pinceladas trazem.
Eduarda Lapa, Natureza Morta (com flores de Outono), óleo sobre tela, não datado, Museu da Guarda.

Fonte: MatrizNet.
Eduarda Lapa foi uma pintora que se notabilizou na pintura naturalista, sobretudo ao representar flores e as ditas naturezas mortas. Por este motivo, ficou conhecida como “pintora das flores” e “embaixadora das cores”, sendo estes dois elementos marcantes em toda a sua obra.
Apesar das naturezas mortas não serem específicas de uma estação particular como o Outono, muitas são as que para ele remetem mesmo só pelo olhar, seja pelas cores, pelos frutos ou pelas flores escolhidos. Tal como acontece com esta obra de Eduarda Lapa, na qual podemos ver flores outonais: crisântemos. Esta espécie floresce entre os meses de Setembro e Novembro e é caracterizada pelas dezenas de pétalas que cada flor contém, elemento que a faz ser considerada como o símbolo do sol. As flores que aqui vemos apresentam-se em variadas cores como o branco, o amarelo e um rosa arroxeado. Os caules são pouco visíveis e estão pousadas num espelho que, através do reflexo, dá um pouco mais de cor à composição. Por entre os crisântemos há um bule em tom de cobre que se confunde, assim, um pouco com o fundo castanho arroxeado. Estes elementos deixam no ar a ideia de que se prepara uma tarde entre chá, bolos em claro está, flores.
António Paixão, Outono, fotografia, década de 1950, Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado.

Fonte: MatrizNet.
António Paixão (1915-1986) iniciou a sua actividade como fotógrafo profissional por volta de 1932. Começou como técnico impressor na Filmarte, em Lisboa, que viria a ser um dos laboratórios fotográficos mais importantes das décadas de 1950 e 1960, altura na qual Paixão tinha um grande destaque decido à qualidade e ao rigor técnico do seu trabalho. É também a altura da criação da fotografia aqui apresentada.
Outono mostra dois dos assuntos mais explorados pelo artista: a paisagem e a figura. Em primeiro plano vemos uma árvore já praticamente despida de folhas e que, por isso, nos deixa ver o que está para além dela. Um pouco mais para dentro da composições vemos uma figura feminina que está ajoelhada perante o rio a lavar a roupa. Esta figura é o elementos mais escuro desta imagem a preto e branco. O rio, que vai até cerca de metade da fotografia, funciona como espelho e é nele que conseguimos ver com mais clareza as restantes árvores que compõem a paisagem. É uma obra característica de António Paixão: a atmosfera e a natureza um tanto bucólicas são elementos determinantes para o propósito final do trabalho que é o de mostrar algum realismo social através da representação das classes mais desfavorecidas.
O verde vai agora dar lugar aos castanhos, laranjas e amarelos e com estas seis obras que se movem entre a Pintura, o Mosaico e a Fotografia é fácil perceber como a ideia de algo, neste caso uma estação do ano, nem sempre tem que ser demonstrada através do mais básico. O Outono pode estar numa paisagem de árvores despidas, mas também pode estar nas frutas, nas flores, numa cena de interiores, na representação da sociedade e até na mitologia.
Um pensamento sobre “O Outono em Seis Obras Portuguesas”