Com uma carreira que se iniciou ainda nas últimas décadas do século XIX e que perdurou durante praticamente toda a primeira metade do século XX, o escultor António Teixeira Lopes afirmou-se como um dos maiores artistas da sua geração, espalhando as suas obras um pouco por todo o país e pelo estrangeiro.
De alma e coração dedicado à família e à arte, rodeou-se de obras que iriam evocar a sua geração, mas também os seus amigos e valores. É sobre ele o presente texto, marcado por uma abordagem à sua vida familiar, académica e de mérito. A análise formal ao que produziu será o tema do próximo artigo.

António Teixeira Lopes, 1925. Fonte: Wikipedia.
António Teixeira Lopes nasceu a 27 de Outubro de 1866, em Vila Nova de Gaia, cidade onde viviam os seus pais, José Joaquim Teixeira Lopes (1837-1918) e Raquel Pereira Meireles (1841-1912), naturais de São Mamede de Ribatua. Era em Gaia que o chefe da família trabalhava, na Fábrica da Cerâmica das Devesas, da qual foi sócio-fundador, juntamente com António de Almeida Costa, que viria a ser padrinho de António.
José Joaquim era escultor e ceramista e isso fez com que António tivesse, desde logo, um contacto muito próximo com a arte, sendo que a sua vertente artística se manifestou desde cedo, algo que se acentuou quando o pai o retirou da escola e decidiu ensiná-lo na Fábrica, ao mesmo tempo que dava oportunidade ao filho de ser criativo. Começou a trabalhar a cerâmica e do Brasil chegaram encomendas de olhos de bonecas que António produzia e a que atribuía muito detalhe.

José Joaquim Teixeira Lopes e António Teixeira Lopes. Fonte: Facebook Quinta Vila Rachel.
Não foi, porém, até 1881 que António Teixeira Lopes se decidiu em relação ao que queria fazer profissionalmente. Com uma exposição-bazar, promovida pelo Centro Artístico Portuense, dirigido pelo também escultor António Soares dos Reis (1847- 1889), que teve lugar no Palácio de Cristal, António percebeu que o seu propósito na vida era trabalhar o mármore. Esta exposição mostrava vários tipos de trabalhos, nomeadamente escultura e pintura, marcados pelas influências de Paris e de Roma devido aos artistas que de lá voltavam. Tal como confessou mais tarde, foi a obra Flor Agreste do escultor Soares dos Reis, que viria a ser seu Mestre, que mais o marcou e lhe deu a entender qual o caminho a seguir.
Assim, decide que no início do ano de 1882 se iria inscrever na Academia de Belas Artes do Porto, para ter a oportunidade de ser aluno de Soares dos Reis. Começou por frequentar aulas de Desenho, com Marques de Oliveira (1852- 1927), de modo a adquirir as aptidões necessárias a prestar provas para o ingresso na Academia e, mais importante, nas tão ansiadas aulas de Escultura, algo que consegue após três meses.
Em 1884 consegue distinção nos exames de terceiro ano de Desenho e Escultura, obtendo a classificação de 17 valores no segundo.
É também neste ano que concorre ao concurso de pensionistas para Paris, o qual perde para Tomás Costa (1861-1932), mas, com a ajuda da família, consegue seguir o caminho para a cidade francesa em Maio de 1885.

António Teixeira Lopes no atelier. Fonte: Facebook Quinta Vila Rachel.

António Soares dos Reis, Flor Agreste, bronze, não datado, Casa-Museu Teixeira Lopes.
O concurso de entrada à Academia de Belas Artes de Paris acontece em Julho do mesmo ano e Teixeira Lopes fica em primeiro lugar com uma classificação de vinte pontos, tendo entrada directa para a Academia. Aqui, foi aluno de Pierre-Jules Cavelier (1814-1894) e Louis Ernest Barrias (1841-1905), na cadeira de Escultura, e de Mathias Duval (1844-1907), em Anatomia.
Enquanto estudante em Paris, António Teixeira Lopes obteve sempre boas classificações e conseguiu participar em vários concursos, como a Ronde-Bosse de 1886, que venceu ao apresentar Academia, e o tão aclamado Salon, onde conseguiu expor logo à primeira tentativa, em 1887, apresentando Orfão e Teresinha. Embora seguro das suas capacidades, teve medo de não ser aceite e apesar de, na exposição final, considerar a primeira obra mal colocada, aproveitou esta oportunidade para saber que aspectos melhorar. Depois da participação de 1887, expõe mais 6 anos consecutivos com obras como Ofélia, A Infância de Caim, A Viúva, entre outras.
É em 1887 que decide alugar um atelier na Rua Denfert-Rochereau e assim começa a relacionar-se com vários artistas portugueses, como Carlos Reis (1863-1940), Marques da Silva (1869-1947) e Veloso Salgado (1864-1945), sendo que o pintor veio a ser um dos seus amigos mais próximos por toda a vida. Pode salientar-se o facto de Salgado ter ganho um prémio no Salon de 1889 ao apresentar um retrato de Teixeira Lopes nesse mesmo atelier, sendo a única imagem que existe do interior do mesmo.

António Teixeira Lopes, Ofélia, gesso, 1887, Casa-Museu Teixeira Lopes.

António Teixeira Lopes (sentado) com o irmão José (à direita) e Marques da Silva (à esquerda). Fonte: Facebook Quinta Vila Rachel.

Veloso Salgado, Retrato do Mestre António Teixeira Lopes, 1889, óleo sobre tela, Casa-Museu Teixeira Lopes.
Mesmo ao estudar e ao expor constantemente em Paris, António Teixeira Lopes vinha regularmente a Portugal, aproveitando para mostrar algumas das suas obras. Podem destacar-se as seguintes exposições:
• 1890, primeira exposição individual em Portugal realizada na Associação Comercial do Porto, onde expõe Caim, Conde de S. Bento, A República, entre outras obras;
• 20 de agosto de 1892, exposição com Veloso Salgado no Salão Norte do Ateneu Comercial do Porto;
• 1893, Exposição Industrial e Agrícola de Vila Nova de Gaia.
No entanto, essas visitas ao seu país Natal não se faziam só de trabalho e exposições. Como grande homem de família, Teixeira Lopes fazia questão de passar o maior tempo possível com os seus, tanto em Vila Nova de Gaia como na casa de família em São Mamede de Ribatua, conhecida como Quinta Vila Rachel. Os pais e os irmãos tiveram sempre uma importância inigualável na sua vida, sendo objecto de uma grande dedicação por parte do escultor.
Teixeira Lopes regressa definitivamente a Portugal no ano de 1894, mas em 1900 volta a Paris com o seu pai e ambos participam na Exposição Universal de Paris. Sendo que decidiu manter o seu atelier na cidade francesa, dispunha ainda de um espaço que lhe permitiu terminar a execução das obras nos dias anteriores à Exposição. António expõe 6 obras, entre as quais Dor, História e Santo Isidoro, sendo galardoado com o Grand-Prix, e o seu pai expõe Carro de Bois e Agricultura, recebendo uma medalha.

António Teixeira Lopes (de pé à esquerda) com a família. Fonte: Facebook Quinta Vila Rachel.

António Teixeira Lopes, Santo Isidoro, madeira e gesso policromado, 1889, Casa-Museu Teixeira Lopes.
Ainda em 1894, vivendo com algum desafogo económico devido à encomenda do túmulo de João Henrique Andresen, decide construir um espaço para trabalhar e morar em Vila Nova de Gaia, cidade escolhida devido à sua centralidade e por permitir fácil acesso a matéria-prima. O projecto desta casa-atelier é do seu irmão e arquitecto, José Joaquim Teixeira Lopes Júnior (1872-1919), com quem colaborou em várias obras, como o túmulo de Almeida Garrett, o Monumento La Couture, o Portal do Museu Militar, entre outras.
Este espaço, conhecido hoje como Casa-Museu Teixeira Lopes, foi doado pelo escultor à Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia no ano de 1933, concretizando o seu desejo de ver a sua casa aberta a todos. Podemos nomear três motivos principais para esta doação: o de António Teixeira Lopes não ter descendência e temer uma separação e perda dos seus bens entre os familiares mais directos; a já referida vontade de tornar este um espaço que toda a gente pudesse visitar; a conservação do seu espólio. É nomeado director-conservador da Casa-Museu, recebendo um ordenado mensal vitalício de quatro mil escudos, podendo habitar a casa, tratar as peças e a sua disposição no espaço de acordo com a sua vontade, bem como realizar visitas guiadas a quem aparecesse.
Nas salas desta casa, António Teixeira Lopes recebia não só os seus familiares como amigos e ainda algumas das personalidades mais distintas da época, como Veloso Salgado, a actriz Italia Vitaliani, a violoncelista Guilhermina Suggia, Ramalho Ortigão e ainda a Rainha D. Amélia.

António Teixeira Lopes e o irmão José. Fonte: Facebook Quinta Vila Rachel.

António Teixeira Lopes (nas escadas) na sua casa em Vila Nova de Gaia. Fonte: Facebook Quinta Vila Rachel.

Rainha D. Amélia (ao centro) em visita à casa de António Teixeira Lopes (à direita da Rainha), 1910. Fonte: Quinta Vila Rachel.

Atelier Central da Casa-Museu Teixeira Lopes.
Foram também muitas as condecorações, medalhas e nomeações que recebeu ao longo da sua vida, não apenas de Portugal, mas de França e Espanha também. A Grã-Cruz da Ordem de Santiago da Espada em 1934, a Medalha de Honra da Cidade do Porto em 1936, o grau de Comendador da Legião de Honra em 1918 e 1935 e o grau de Cavaleiro e de Oficial do Governo Francês em 1901 e 1906 são algumas a destacar.
Para além do seu trabalho como escultor, António Teixeira Lopes foi professor da Cadeira de Escultura na Escola de Belas Artes do Porto, cargo que ocupou a partir de 1901 por nomeação no Decreto do Diário de Governo de 24 de Outubro, tendo substituído António Soares dos Reis. O seu percurso como docente foi irregular, tendo abandonado o cargo por duas vezes, a primeira entre 1916 e 1918 e a segunda entre 1929 e 1932. Quando volta ao ensino em 1932, fá-lo por ser novamente nomeado para o cargo no Diário de Governo de 15 de Março desse ano, ocupando o lugar até atingir o limite de idade, setenta anos, em 1936.
Em 1916 assumiu a presidência da Sociedade Portuense de Belas Artes, fundada por artistas como Guedes de Oliveira (1865-1932) e Marques da Silva em 1898.
Antes da sua morte, legou à Academia uma verba para que anualmente fosse atribuído o prémio “Teixeira Lopes” a quem se revelasse o melhor aluno de escultura. Esta vontade de ajudar o próximo foi algo que o caracterizou durante toda a sua vida, sendo que foram várias as angariações de fundos que organizou para apoiar os mais desfavorecidos, principalmente as crianças.
No início de 1942, retira-se para a sua casa de família em São Mamede de Ribatua, local onde acabaria por falecer a 21 de Junho do mesmo ano, com 76 anos.

António Teixeira Lopes com a Grã-Cruz de Santiago de Espada, 1936. Fonte: Gisa.

Algumas das medalhas e condecorações atribuídas a António Teixeira Lopes, Casa-Museu Teixeira Lopes.
António Teixeira Lopes trabalhou até que o corpo lhe não mais permitisse e, por isso, o seu legado continua vivo nos dias de hoje
vemos nestes dois artigos o cuidado e o carinho que tens pelas obras e pelo Antonio Teixeira Lopes . muito bom de ler, super informativo e interessante !
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Fico feliz por transparecer isso. 🙂
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