No dia 5 de Março foi inaugurada a mais recente exposição das Galerias Diogo de Macedo, na Casa-Museu Teixeira Lopes. Abraço a Saramago vem na sequência de muitos eventos que se vão propagar este ano pelo país, prestando homenagem ao escritor português no ano em que se assinala o seu centenário.
Uma exposição dividida em duas partes que se foca neste homem e autor tão importante no panorama cultural nacional e não só.

A exposição, com curadoria de Agostinho Santos, parte de uma convite feito a vários artistas para que desenvolvessem um trabalho sobre a obra de José Saramago (1922-2010), o único autor português galardoado com o Nobel da Literatura. Como já referido, o propósito é o de homenagear o escritor no ano do seu centenário.

Abraço a Saramago divide-se em duas partes.
A primeira é totalmente dedicada a obras de Violante Saramago Matos (n.1947), filha do escritor, com uma série de trabalhos realizados a Ecoline e grafite que nos transportam para passagens específicas de vários livros de Saramago, aliando o desenho e pintura a pequenos excertos textuais.
A segunda é feita de obras de vários nomes do panorama artístico português como Albuquerque Mendes (n.1953), António Bessa (n.1953), Lina Carvalho, Pedro Calapez (n.1953) e até do escritor Valter Hugo Mãe (n.1971). São interpretações e alusões a vários dos seus romances como Memorial do Convento, Ensaio Sobre a Cegueira, Caim, mas também obras que se reportam ao autor em si, com recurso ao retrato.

Violante Saramago Matos, São Asas, acrílico e colagens sobre tela, 2018.

Esquerda: Violante Saramago Matos, O Conto da Ilha Desconhecida, ecoline e grafite sobre papel, 2021.
Direita: Violante Saramago Matos, O Ano da Morte de Ricardo Reis, ecoline e grafite sobre papel, 2020.

Violante Saramago Matos, Manual de Pintura e Caligrafia, ecoline e grafite sobre papel, 2021.

Temos, assim, dois pontos de vista diferentes: o de Violante que é mais pessoal, num relacionamento com o autor e com o pai; o dos restantes artistas que mostram o seu respeito e admiração por esta figura marcante do mundo literário português. Mas são, no fundo, dois mundos que se juntam numa homenagem a este homem e escritor, mostrando como, 100 anos depois do seu nascimento, a sua importância no panorama cultural português, e não só, continua viva e longe de se extinguir. O seu legado revela-se eterno.

Obras coloridas e vivas, mas ao mesmo tempo com uma certa conotação quase fantasmagórica que reporta a tal condição humana sempre presente na obra de José Saramago. Uma sociedade que nos observa para lá da tela e que nos puxa para as suas vivências e experiências que aparecem narradas no texto. Através das obras expostas seguimos aquilo a que Saramago sempre nos habituou: conviver e pensar em temas que se nos revelam incómodos.
É interessante perceber como vários e distintos artistas conseguem ter esse mesmo efeito em quem observa as suas obras na exposição.

Valter Hugo Mãe, Sob a Cegueira, tinta da China sobre papel, 2022.

Juan Domingues, Saramago página 01 e 02 (sketchbook), esferográfica sobre papel, 2012.

Filipe Rodrigues, O Sinal, Última Aparição de Caim, acrílico sobre tela, 2022.

Se forem conhecedores da obra de José Saramago, fica o convite para que tentem perceber a que livro se reporta cada trabalho antes de lerem a legenda. São, na sua maioria, associações que se fazem rapidamente, mas há certos casos em que não.

A exposição Abraço a Saramago pode ser visitada até ao dia 30 de Abril, de Terça-Feira a Sábado, das 9h às 12h30 e das 14h às 17h30.
A entrada é gratuita.
Para mais informações: Abraço a Saramago.

Imagem de topo: Esquerda: António Bessa, Saramago Rodeado Pela Escrita dos Seus Livros, óleo sobre tela, 2021. / Centro: António Bessa, Saramago Apoiado na Alma dos Seus Livros, óleo sobre tela, 2021. / Direita: Rui da Graça, Memória de Saramago, óleo sobre tela, 2021.