Hoje, dia 15 de Abril, assinala-se o Dia Mundial da Arte, uma data que ajuda a reforçar a ligação entre Arte e Sociedade, enaltecendo a diversidade de expressões artísticas que existem.
Este dia foi o escolhido, pois é a data de nascimento de Leonardo da Vinci.
Posto isto, serve o presente artigo para falar um pouco sobre a importância deste dia, mas também sobre a única obra do pintor renascentista que existe em solo português, pertencente à Faculdade de Belas Artes do Porto.
A Arte diz o indizível; exprime o inexprimível, traduz o intraduzível.
– Leonardo da Vinci.
O Dia Mundial da Arte, que tem o intuito de promover o desenvolvimento, a difusão e a apreciação da Arte em todo o mundo, teve a sua celebração aprovada pela IAA (Associação Internacional de Arte), durante a sua 17ª Assembleia Geral, que teve lugar em Guadalajara, em 2012. Posteriormente, foi também proclamado na Sessão da 40ª Conferência Geral da UNESCO, em 2019.
A Arte tem um papel de diversidade cultural de inovação e criatividade global, tendo importância em todos os povos ao encorajar diálogo e curiosidade a partir da partilha de conhecimento. Qualidades que desde sempre representam o que é a Arte e que lhe continuarão inerentes, desde que haja apoio a ambientes artísticos, nos quais os artistas e as liberdades artísticas continuem a ser promovidos e protegidos. O dia 15 de Abril serve exactamente esse propósito, bem como o de dar foco à criação artística nas escolas, sendo que a cultura pode criar uma educação inclusiva e igualitária.
O Conselho Executivo da UNESCO decidiu ainda que o Dia Mundial da Arte deve ser celebrado, sempre que possível, com jornadas internacionais.
Como referido, este dia foi escolhido por ser a data de nascimento de Leonardo da Vinci. Nascido a 15 de Abril de 1452 em Vinci, uma pequena localidade perto de Florença, tornou-se um dos maiores génios artísticos de sempre, dedicando a sua vida às Belas-Artes, a várias expressões artísticas, mas também às Ciências, contribuindo com várias invenções que viriam a moldar a forma como vemos o mundo e que são, hoje em dia, utilizadas, embora não exactamente iguais aos seus desenhos. O seu legado é indiscutível e o mesmo baseia-se na curiosidade, no aprender por experiência e na reflexão como parte do processo criativo. Da Vinci é um símbolo global de paz, da liberdade de expressão, da tolerância, da fraternidade e de multiculturalismo, tendo inspirado não só milhares de artistas como milhares de pessoas sem ligação ao mundo da Arte, durante todos estes séculos.

Leonardo da Vinci, Rapariga Lavando os Pés de uma Criança; Estudo Separado das Nádegas da Criança, c. 1483, pedra negra, pena e tinta castanha e aguada castanha sobre papel, 185×114 mm, Museu da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
Este desenho remonta para uma altura em que Leonardo da Vinci se encontrava já a trabalhar na corte de Milão, onde tem uma vida segura do ponto de vista material, com possibilidade de trabalhar em várias áreas. Para além das tarefas artísticas, dedica-se a outros interesses de base técnica e mecânica. Leonardo é um uomo universale mais do que um artista, trabalhando como pintor, escultor, poeta, músico, inventor e cientista, botânico, anatomista, matemático, arquitecto, engenheiro.
A obra pertence, então, ao acervo do Museu da Faculdade de Belas Artes da Universidade Porto (FBAUP), sendo, como já mencionado, a única obra de Leonardo da Vinci existente em Portugal. Integra a colecção de Desenho Antigo do Museu, um dos seus núcleos mais ricos. Realizada entre 1480 e 1483, é apresentada pela primeira vez ao público em 1962, na Escola Superior de Belas Artes do Porto, na exposição Desenhos Séculos XVI e XIX.
A sua autoria foi reconhecida pela primeira vez em 1965, pelo historiador e curador de arte do British Museum Philip Pouncey, após o mesmo fazer relação com outras obras de Da Vinci para identificação. Posteriormente, outros especialistas conseguiram provar essa mesma relação a nível museológico e cientifico.
Essa descoberta é tornada pública em 1978, aquando a publicação do artigo An Unknown Drawing by Leonardo da Vinci, na revista Apollo. Anteriormente, o desenho estava atribuído a Raffaellino da Reggio, pois esse nome aparece no canto inferior esquerdo da folha do desenho.
Pensa-se que o desenho chegou ao Porto durante o século XIX pelas mãos de estudantes bolseiros da então Academia Portuense de Belas-Artes que, na altura, frequentavam as academias italianas, na tentativa de reunir materiais de estudo para a então Academia Portuense de Belas Artes. Não havendo fundo de maneio para pinturas, os desenhos eram os itens mais adquiridos, não sendo este exemplo único na colecção da FBAUP.

Leonardo da Vinci, Rapariga Lavando os Pés de uma Criança; Estudo Separado das Nádegas da Criança, c. 1483, pedra negra, pena e tinta castanha e aguada castanha sobre papel, 185×114 mm, Museu da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
Embora não esteja em exposição permanente no Museu da FBAUP, tem andado em itinerância por várias cidades do mundo, desde que a sua atribuição foi revelada. Espanha, Holanda, França e até os Estados Unidos da América são alguns dos sítios por onde passou. Mais recentemente, esteve presente na exposição Desenhos de Mestres Europeus em Colecções Portuguesas II: Itália e Portugal, que esteve patente no Museu Nacional de Soares dos Reis, no final do ano passado.
No dia 2 de Maio de 2019, aquando os 500 anos da morte do artista, esteve em exibição, por apenas esse dia, no Pavilhão de Exposições da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.
Este é um desenho pequeno típico do Renascimento italiano e num estilo muito próprio de Leonardo da Vinci. Na altura os desenhos serviam sobretudo como instrumento de observação como mecanismos de entendimento do mundo, para preparar obras ou como desenhos proto-científicos, algo que Da Vinci também trabalhou.
Não é relacionado com nenhuma pintura, não tendo esse lado pragmático enquanto projecto, mas tem sim um lado intimista que tenta alcançar empatia com as figuras representadas. Esse lado intimista e quotidiano afasta-o dos grandes temas do Renascimento, tornando-se algo único não só na obra do artista como nos trabalhos do próprio estilo.
É um desenho despreocupado, pois revela essa relação de uma mãe com o seu filho e não algum elemento técnico que deve ser representado com o máximo detalhe.
Muito se poderia dizer sobre o génio artístico que foi Leonardo da Vinci, mas neste Dia Mundial da Arte, assinalado 570 anos após o nascimento do artista renascentista, é importante valorizar as obras que constituem e enriquecem o património português, ainda para mais quando se tratam de desenhos intimistas como aquele aqui referido.
Que o Dia Mundial da Arte sirva sempre para darmos atenção ao que nos constitui não só enquanto sociedade internacional, mas também nacional. Que seja também, e tal como planeado pelas instituições que o criaram, uma forma de dar mais palco a quem se expressa artisticamente, ajudando a levar valores mais longe e de forma a que todos os percebam.