No ano em que se assinalou o centenário do nascimento de Agustina Bessa-Luís, foram várias as iniciativas e exposições que surgiram como forma de celebrar a escritora. A sua cidade Natal não poderia ser excepção e desta forma surge, no Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, em Amarante, a exposição Agustina Bessa Luís: Feminino, Uma História Ficcionada, a qual inaugurou a 15 de Outubro de 2022, o dia exacto em que a autora portuguesa celebraria os seus 100 anos.
O presente artigo levanta um pouco o véu sobre esta mostra onde quem reina é a Mulher.

Agustina Bessa-Luís nasceu a 15 de Outubro de 1922, em Vila Meã, Amarante.
A escrita esteve presente na sua vida desde muito cedo, mas foi já depois de casada que publicou Mundo Fechado, a sua primeira obra de ficção, corria o ano de 1948. Super-Homens viria a ser o seu primeiro romance, sendo publicado dois anos mais tarde, em 1950, quando a escritora tinha já residência fixa na cidade do Porto.
Toda a sua obra reflecte sobre a condição humana e há um constante voltar às suas raízes, sendo o Douro um dos locais mais referidos nas dezenas de obras que publicou por entre várias formas de escrita como a ficção, o teatro, a crónica, guiões, literatura infantil, ensaios romanescos com inspiração histórico-biográfica, etc.
Agustina Bessa Luís viria a falecer a 3 de Junho de 2019 e deixou atrás de si um legado não só de Literatura, mas também de vários prémios e distinções:
*Prémio Eça de Queirós, em 1954;
*Prémio Nacional da Novelística, em 1967;
*Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências de Lisboa, em 1966 e 1977;
*Prémio D. Dinis, em 1980;
*Prémio PEN Clube Português de Novelística, em 1981;
*Distinguida com o grau de Grande-Oficial da Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, do Mérito Científico, Literário e Artístico, a 9 de Abril de 1981, tendo sido elevada ao grau da Grã-Cruz da mesma Ordem a 26 de Janeiro de 2006;
*Grande Prémio do Romance e da Novela da Associação Portuguesa de Escritores, em 1984;
*Prémio Seiva, em 1988;
*Distinguida com a Medalha de Honra da Cidade do Porto, a 31 de Maio de 1988;
*Distinguida com o Grau de Oficial da Ordem das Artes e das Letras de França, em 1989;
*Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários, em 1992;
*Distinguida com a Medalha de Mérito Cultural, em 1993;
*Prémio União Latina de Literaturas Românicas, em 1997;
*Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa, em 2004, tinha já 81 anos;
*Distinguida com o título de Doutora Honoris Causa pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em 2005.

Hélder de Carvalho, Busto de Agustina Bessa-Luís. Colecção privada.

A exposição Agustina Bessa-Luís: Feminino, Uma História Ficcionada tem por base algumas passagens que a autora portuguesa escreveu no livro Dicionário Imperfeito, o qual foi publicado em 1997. O mote é “A mulher é uma criadora por natureza. A mulher é.”
Ao longo das várias salas da exposição, vemos inúmeros excertos e cada um deles é associado a uma obra da colecção do Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, fazendo assim uma revisitação ao seu acervo, principalmente ao universo feminino que o compõe. Todas estas peças evocam mulheres e/ou foram criadas por mulheres artistas e dividem-se entre obras que se relacionam directamente com as palavras da escritora e obras que representam a mulher e a sua respectiva expressão criativa.
As únicas excepções relativas aos textos utilizados verificam-se no caso das obras de Paula Rego e de Maria Helena Vieira da Silva, sendo que os excertos associados às suas obras pertencem, respectivamente, aos livros As Meninas (escrito em conjunto com a própria Paula Rego) e Longos Dias Têm Cem Anos.
É uma exposição simples que evoca a mulher de várias formas por tudo o que ela é, faz e dá ao mundo, mas também por todos os modos como se expressa e entrega. Cada excerto é associado a um sentimento, acontecimento ou ligação e podemos ver como se reflecte na obra escolhida para o ilustrar.




Esquerda: Maria Helena Vieira da Silva, Le Mirador. Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso.
Direita: Lourdes Castro, Sombras. Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso.

Os caminhos possíveis da Exposição são os da descoberta destas mulheres, das suas complexidades estéticas. Uma viagem pelo tempo, espaços, símbolos e significados, espoletada pelo encontro com o universo feminino da colecção do Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso.
-folha de sala da exposição.
Visitar esta esta mostra leva-nos numa viagem pelo mundo do Feminino e pede-nos que nos dediquemos a descobrir quem poderão ser estas mulheres que vemos representadas e definidas. Somos nós? Alguém que conhecemos? Alguém que marcou o país ou o mundo? As artistas? A escritora? Cabe-nos a nós perceber como nos relacionamos com as palavras e como nos relacionamos com o conjunto das palavras com as obras escolhidas para as ilustrar.
Sendo uma exposição que remexe no acervo de um museu, estamos perante um conjunto de peças que remetem para vários tempos, espaços e para diferentes modos como a mulher era vista e como se via a si própria. Os vários estilos e estéticas presentes tornam também tudo mais apelativo pelo facto de que podemos ver como este é, e sempre foi, um tema universal na Arte, seja como musa, como apontamento numa cena mais paisagística ou como forma de perceber melhor o lado humano da Humanidade e os sentimentos que a constroem.



Para além das já mencionadas Paula Rego e Vieira da Silva, nesta exposição podemos ver obras de artistas como Amadeo de Souza-Cardoso, Acácio Lino, António Carneiro, Clara Menéres, Júlio Pomar, Teixeira de Pascoaes, Sarah Affonso, entre outros. É ainda de destacar um desenho de Maria Antónia Siza Vieira que é exposto pela primeira vez.
Viajar no universo de Agustina é sentir a mulher, nas suas carências e incoerências, como se, à flor da pele, nos olhássemos ao espelho. Não são conceitos de feminismo, são estados de alma do Humano nos quais, nas suas diferenças, nos vamos revendo. Nesta exposição pretende-se uma reacção interpelativa, que cada um sinta e descubra.
-Rosário Machado, directora do Departamento de Cultura de Amarante.

Clara Menéres, A Menina Maria Amélia que Vive na Rua do Almada (Detalhe). Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso.

Paula Rego, A Rainha Santa Isabel. Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso.

Amadeo de Souza-Cardoso, Canção Popular e o Pássaro do Brasil. Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso.
A exposição Agustina Bessa-Luís: Feminino, Uma História Ficcionada pode ser visitada até 28 de Maio de 2023.
O Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso tem as portas abertas para vos receber de Terça-Feira a Domingo, das 9h30 às 12h30 e das 14h às 17h30.
A entrada tem o custo de 4€, havendo vários descontos aplicáveis.
Para mais informações, consultar: MMASC.
Algumas das imagens são da autoria de Guilherme Teixeira, autor do blog RawTraveller.
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Referências:
Visita à exposição Agustina Bessa-Luís: Feminino, Uma História Ficcionada;
Folha de sala da exposição;
Câmara Municipal de Amarante – Amarante assinala centenário de Agustina Bessa-Luís com três exposições;
Infopédia – Agustina Bessa-Luís;
Wikipédia – Agustina Bessa-Luís.